Número 14 – abril de 2010

Mensagem do Diretor

Na África, 95% do setor agrícola é representado por pequenos produtores que vivem em remotas áreas rurais com limitada infraestrutura. Eles precisam do apoio de organizações de agricultores para ajudá-los a se conectar melhor com os mercados, aumentar a produtividade agrícola e desenvolver suas atividades para melhorar permanentemente sua subsistência.

Os agricultores e suas organizações são parte integral do trabalho do FIDA; para tanto, necessitam estar sistematicamente envolvidos em todas as etapas dos projetos e programas, desde a concepção e elaboração até a execução diária das operações e avaliação dos resultados. Somente quando os agricultores e suas organizações estiverem plenamente incorporados ao planejamento, elaboração, implementação, consulta e diálogo sobre políticas é que o FIDA e os governos nacionais conseguirão ajudá-los a melhorar sua subsistência e sua produção. Mas as organizações de agricultores precisam estar bem estruturadas e ter o conhecimento e a capacidade para executar projetos em nome de seus membros. Na África Oriental e Meridional, muitas organizações de agricultores são relativamente novas. Nesta etapa, muitos esforços precisam ser dirigidos para fortalecer a capacidade dessas organizações.

O Fórum dos Agricultores foi estabelecido para dar aos agricultores e pequenos proprietários dos países pobres uma voz igual no debate internacional sobre agricultura. O processo, que teve início em 2006, avançou e tem mostrado resultados muito positivos. Mas é preciso fazer mais para que o Fórum passe à próxima etapa e se transforme num instrumento das políticas do FIDA. Foram apresentadas várias recomendações ao FIDA para aproveitar o progresso obtido até agora. Elas se encontram neste boletim, que também apresenta um resumo dos debates do Fórum e entrevistas com representantes dos agricultores da região. Acreditamos firmemente que o forte trabalho que as organizações de agricultores realizam diariamente com apoio do FIDA começará a dar frutos em toda a região. Esperamos que o próximo Fórum dos Agricultores, daqui a dois anos, seja ainda melhor.

Ides de Willebois

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Artigo especial sobre o Fórum dos Agricultores: um futuro promissor

“Desde que o Fórum dos Agricultores aconteceu há dois anos, o mundo passou por várias crises, exacerbadas pela recessão global e mudança climática. Essas crises não só revelaram décadas de negligência do setor agrícola, mas também alertaram para a importância de se desenvolver a agricultura como fonte de crescimento econômico e estabilidade política.” 

Essas foram as palavras de abertura do presidente do FIDA, Kanayo F. Nwanze, no terceiro Fórum dos Agricultores, realizado em Roma, em 15 e 16 de fevereiro de 2010. O Fórum, uma conferência global bienal de organizações de agricultores realizada sob os auspícios do FIDA, reuniu mais de 70 líderes, representando milhões de pequenos agricultores e produtores rurais, da Ásia, África, América Latina, Oriente Próximo e Europa.

Se o mundo da agricultura está enfrentando desafios sem precedentes, o Fórum dos Agricultores como instituição registrou progresso desde a última reunião. “Acho que realmente progredimos”, diz Philippe Rémy, Assessor Técnico na Divisão de Política Operacional e Assessoria Técnica do FIDA. “Há um envolvimento mais forte das divisões regionais e vimos alguns resultados tangíveis nos programas e estratégias do FIDA para os países.” Uma pesquisa qualitativa feita pela primeira vez com algumas organizações de agricultores para medir sua participação nas atividades do FIDA mostrou que participam mais ativamente nos Programas de Oportunidades Estratégicas (COSOPs) e projetos do FIDA.

Por exemplo, em 2008-2009 as organizações de agricultores estavam envolvidas em 83% dos COSOPs; além disso, o que é mais importante, a qualidade e a intensidade da colaboração melhoraram significativamente: 61% das organizações de agricultores foram consideradas “atores especiais”, em comparação com 55% em 2006-2007. As tendências nos projetos eram semelhantes, com um aumento substancial na participação das organizações de agricultores, de 34 para 51%. As cifras são ainda mais notáveis no tocante ao financiamento direto. Em 2008-2009, o financiamento direto a organizações de agricultores totalizou US$12 milhões, mais do dobro do volume de 2006-2007 (US$5,9 milhões); desde o início do processo o financiamento direto decuplicou.

Parte do êxito do Fórum deste ano se deve ao fato de que os agricultores de várias partes do mundo se reuniram pela terceira vez em quatro anos e puderam aproveitar a experiência acumulada. “Realmente, achamos que está se desenvolvendo um sentido de solidariedade. Foi mais que um simples debate. Durante dois dias, funcionários do FIDA foram conquistados por agricultores do mundo inteiro, compartilhando preocupações similares. Foi muito bom para a instituição,” disse Rémy.

Se o Fórum deste ano registrou um acordo, foi quanto à necessidade de fortalecer o apoio à agricultura de pequena escala e ajudar os pequenos produtores a desenvolver atividades rentáveis. “Não consultamos uns aos outros, mas todos convergimos na questão dos pequenos agricultores,” afirmou Philippe Kiriro, Presidente da Eastern African Farmers Federation (veja entrevista adiante).

   
 

 

Um grupo de representantes durante uma pausa nos debates no Fórum de Agricultores.    

Atribuiu-se ênfase especial à importância da mulher para o futuro da agricultura de pequena escala. O Fórum dos Agricultores anterior estabeleceu uma participação mínima de 30% de mulheres representantes de organizações de agricultores no Fórum deste ano e a realização de uma sessão especial sobre promoção da liderança de mulheres em organizações de agricultores. A participação de mulheres excedeu as expectativas: 27 representantes, ou 40% dos participantes. Contudo, é preciso fazer mais. As mulheres precisam receber treinamento para se tornar líderes, como Alice Kachere de Malawi (veja entrevista adiante), mas grande parte do esforço deve ser dirigido a treinamento para que se tornem empresárias e adquiram as habilidades básicas para administrar bem suas lavouras. “Queremos que a agricultura seja controlada por nós, as pessoas que cultivam a terra e estão alimentando o mundo,” disse Alphonsine Nguba Ngiengo da Confédération Paysanne du Congo (COPACO-PRP), agricultora e membro do Comitê Diretor do Fórum dos Agricultores.
 
Os problemas que as mulheres enfrentam são semelhantes aos encontrados pelos jovens, que não veem um futuro na agricultura. Por isso, muitos participantes sugeriram a realização de uma sessão especial sobre jovens durante o Fórum dos Agricultores e a inclusão de componentes específicos sobre jovens nos projetos e estratégias, para que eles tenham maior participação. “Não importa o avanço da tecnologia; sempre precisaremos de agricultores. A melhor maneira de atrair os jovens é a rentabilidade da agricultura,” diz Kati Partanen, uma agricultora que representa a International Federation of Agricultural Producers (IFAP).

Nesse contexto, o FIDA precisa manter uma colaboração ainda mais estreita com as organizações de agricultores para assegurar que as opiniões e preocupações de todos os agricultores sejam consideradas em seus projetos e programas. Além disso, precisa assegurar que esses programas correspondam às verdadeiras necessidades dos agricultores. As organizações de agricultores devem participar ativamente das diversas etapas de um programa ou projeto, desde a elaboração passando pela implementação, até o monitoramento e avaliação. O Fórum recomendou que a participação das organizações de agricultores seja institucionalizada, com condições explícitas estipuladas no processo de negociação e assinatura do contrato. O Fórum também sugeriu a elaboração de uma ferramenta de avaliação que seja de uso fácil pelos agricultores e que meça não só o impacto, mas também a eficácia da elaboração e implementação do projeto.

Trata-se de recomendações feitas no âmbito global. Olhando mais de perto as regiões, essas recomendações devem ser revisadas de acordo com o contexto local, pois nem todas as organizações de agricultores estão no mesmo nível de desenvolvimento. Em algumas regiões, como na África Ocidental, as organizações de agricultores estão bem estabelecidas e prontas para aumentar sua participação nos programas do FIDA. Em outras regiões, como na África Oriental e Meridional, muitas organizações de agricultores estão apenas começando. ”Muitos recursos devem ser dirigidos para fortalecer a capacidade das organizações de agricultores,” disse Ides de Willebois, Diretor da Divisão da África Oriental e Meridional do FIDA.” Não dispõem de pessoal, treinamento e instalações necessárias para serem tão eficazes quanto gostariam de ser.”

Em muitos países da África Oriental e Meridional, as organizações de agricultores têm deficiências organizacionais. Podem ter mentalidade empresarial, mas em geral não dispõem de estrutura para se expandir. Em alguns casos, se limitam a um produto ou setor e, portanto, não representam toda a base de pequenos agricultores. Em outros casos, foram estabelecidas pelo governo local e não representam realmente os pequenos agricultores. “As organizações de agricultores precisam realmente fortalecer os vínculos com os possíveis membros, isto é, os próprios agricultores, que são nosso verdadeiro grupo-alvo,” afirmou Alessandro Marini, Gerente do Programa do FIDA para Moçambique e ponto focal para organizações de agricultores. “E o FIDA deve ajudá-las.”  

O que também falta na região é uma forte estrutura piramidal com uma organização regional principal, organizações sub-regionais para a África Oriental e Meridional, organizações nacionais e agências distritais. “Precisamos fortalecer a capacidade em todos os níveis na região, desde a organização principal e o nível sub-regional, até o nível nacional e distrital, sem esquecer que o importante é que as organizações de agricultores mantenham contato estreito com seus membros,” acrescentou de Willebois.

A Eastern African Farmers Federation foi formada em 2001 para representar os interesses regionais, mas essa organização sub-regional relativamente jovem ainda não é bem conhecida para representar todo o setor agrícola. A Southern African Confederation of Agricultural Unions (SACAU) foi estabelecida em 1992 para representar sindicatos nacionais de agricultores e associações regionais de produtos na região. Seu objetivo é fortalecer a capacidade das organizações de agricultores dando uma voz coletiva aos agricultores em assuntos regionais e internacionais e fornecendo informações agrícolas a seus membros e outras partes interessadas. No âmbito nacional, no Quênia, a Kenyan National Federation of Agricultural Producers (KENFAP) foi revivida no fim dos anos 1990, com apoio do FIDA e outros parceiros de desenvolvimento, para dar uma voz mais forte aos pequenos agricultores. Mas, até agora, a organização representa principalmente a horticultura, sendo preciso contar com mais tempo e recursos para se expandir. 

Outros exemplos mostram que, quando os recursos são investidos em fortalecimento da capacidade, dão frutos. A Tanzânia é um exemplo. Um dos objetivos do Programa de Desenvolvimento do Setor Agrícola (ASDP), implantado no ano passado e apoiado pelo FIDA, consiste em introduzir alterações nas políticas para aumentar a participação dos agricultores nos programas agrícolas. Para isso, é preciso que os agricultores estejam adequadamente informados sobre o ASDP e que existam organizações de agricultores mais fortes no âmbito local e distrital.

Em 2008-2009 o FIDA forneceu uma doação de US$400.000 para desenvolver a capacidade da rede tanzaniana de grupos de agricultores, MVIWATA, em dez distritos (oito no continente e dois em Zanzibar), para aumentar sua conscientização e fazer com que participem mais ativamente do ASDP. Foram estabelecidos grupos e redes locais de agricultores e desenvolveu-se um diálogo mais forte entre eles e outros atores como o Conselho Distrital. Além disso, levou a um aumento da representação dos agricultores nos comitês de aldeia e bairro em resultado do treinamento e ao reconhecimento por parte do governo local. Com a doação, MVIWATA conseguiu atingir novos distritos e desenvolver sua própria capacidade como organização. Depois disso, foi contratada pelo governo local como provedor de serviços para fortalecer a capacidade dos grupos e redes de agricultores em distritos dentro e fora da área do projeto.

Para que o Fórum dos Agricultores continue a crescer, será preciso manter vínculos mais fortes com a Diretoria Executiva do FIDA. “O Fórum se tornou uma ferramenta eficaz no trabalho do FIDA, mas um vínculo mais forte entre ele e a Diretoria seria importante porque as decisões são tomadas por ela,” diz Rémy. As conclusões do Fórum foram apresentadas ao Conselho Administrativo realizado em conjunto com o Fórum.

Conforme expressado na síntese das deliberações do Fórum deste ano: “A parceria com organizações de agricultores melhorou o conhecimento do FIDA sobre a pobreza rural e possibilitou que atribuísse mais ênfase aos agricultores menores e mais pobres; a parceria  se beneficiou do conhecimento e experiência local e indígena, o que por sua vez resultou em melhores projetos e benefícios mais sustentáveis para os pequenos agricultores. Ao mesmo tempo, reconhecemos que precisamos fazer mais e melhor para aprofundar essa parceria.”

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Resultados do seminário regional sobre a África Oriental e Meridional

   
 

 

Alphonsine Nguba Ngiengo of the Confederation Paysanne du Congo (COPACO-PRP).    

O seminário sobre a África Oriental e Meridional, realizado como parte de uma série de seminários regionais organizados pelo Fórum, se concentrou principalmente no acesso dos pequenos agricultores aos mercados. Foi presidido por Ides de Willebois e moderado por Benoit Thierry, Gerente do Programa para Madagascar e as Seychelles. Vários representantes dos agricultores fizeram apresentações sobre suas organizações e programas, incluindo Alice Kachere da NASFAM no Malawi, Stephen Ruvuga da MVIWATA na Tanzânia, Solofo Andrianajahatratra, Presidente da Câmara de Agricultura de Madagascar, e Doug Taylor-Freeme, Presidente da SACAU. O resultado do seminário foi apresentado à sessão plenária do Fórum no segundo dia.

A questão do acesso ao mercado é particularmente relevante para a região, pois muitos obstáculos ainda impedem que os pequenos agricultores tenham acesso aos mercados e participem mais de toda a cadeia de valor. Esses obstáculos incluem falta de infraestrutura, falta de transporte adequado, falta de informação sobre os mercados e falta de organização. “Constatamos que em muitos casos os agricultores não conseguem progredir devido à falta de estrutura organizacional e não a problemas técnicos,” afirma Geoffrey Livingston, Economista Regional na Divisão da África Oriental e Meridional do FIDA.

Em muitos casos, as cooperativas de comercialização não envolvem os agricultores desde o início; só os consultam muito tempo depois de terem sido estabelecidas. Tendem a dar atenção insuficiente a educação, informação e treinamento. Em consequência, os agricultores têm dificuldade em entender os benefícios de se filiar, bem como os respectivos direitos e obrigações.

Após várias apresentações, o debate se concentrou em torno de três pontos: acesso aos mercados; ajuda das organizações de agricultores aos seus membros; apoio do FIDA para obter acesso aos mercados. Foram identificados quatro desafios principais: infraestrutura rural; informação sobre os mercados; autonomia dos agricultores; falta de um movimento cooperativo na África Oriental e Meridional.

Com respeito à infraestrutura rural, sugeriu-se que o FIDA invista em estradas, mercados, instalações de armazenagem e frigoríficos para os pequenos produtores e suas organizações. No tocante à informação sobre os mercados, recomendou-se que o FIDA ajude os centros de informação a desenvolver sistemas com a utilização de novas tecnologias.

Já que os agricultores em geral estão dispersos pelo território, o FIDA poderia ajudar suas organizações a se mobilizar em torno de lavouras ou produtos específicos, criando oportunidades de comercialização coletiva. Finalmente, já que as associações em geral são criadas pelos governos em torno de produtos específicos, sugeriu-se que o FIDA oriente suas intervenções no sentido de dar autonomia aos agricultores para que criem suas próprias estruturas. O restabelecimento de um movimento cooperativo na região e a reconstrução da imagem das cooperativas agrícolas poderiam ajudar a enfrentar esse desafio.

O grupo de trabalho identificou algumas sugestões para que o FIDA enfrente esses desafios:

Principais recomendações para o FIDA

  • O grupo de trabalho formulou cinco recomendações importantes para o FIDA:
  • Desempenhar o papel de intermediário para ajudar as organizações de agricultores a participar de grandes programas governamentais, como o ASDP na Tanzânia.
  • Ajudar a estruturar e promover a auto-sustentabilidade das organizações de agricultores no âmbito nacional para que forneçam serviços econômicos a seus membros.
  • Trabalhar com organizações de agricultores para reduzir os riscos associados à comercialização – por exemplo, promovendo seguro agrícola adaptado às suas necessidades.
  • Ajudar a descentralizar o financiamento, já que o fluxo de fundos vai do centro para as regiões.
  • Apoiar o desenvolvimento da capacidade das organizações de agricultores de defenderem suas causas

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Histórias do campo

Como uma organização de agricultoras pode melhorar a subsistência: entrevista com Alice Kachere

   
 

 

Alice Kachere, Presidente da National Smallholder Farmers' Association of Malawi (NASFAM)    

Alice Kachere veio ao Fórum dos Agricultores como líder para representar a Smallholder Farmers’ Association of Malawi (NASFAM). Desde o seu ingresso em 2001, rapidamente subiu na organização até se tornar presidente da diretoria (em 2008). Mãe solteira, ela tem três filhos, cria os dois filhos de seu irmão e cuida da sua mãe. A NASFAM foi legalmente registrada em 1998 e agora é a maior organização de agricultores de Malawi.

Que é a NASFAM?

A NASFAM proporciona serviços econômicos aos seus membros: organiza os pequenos produtores, fortalece a capacidade dos pequenos agricultores para ter acesso aos mercados, aumenta a participação dos pequenos agricultores com acesso aos mercados e incentiva os pequenos agricultores a influenciar a fixação de preços no mercado interno. Compreende 43 associações locais.

Como exemplo, a NASFAM ajudou a desenvolver o comércio justo de tubérculos.  Trabalhamos em pesquisa e desenvolvimento, treinamento agronômico e pós-colheita e amostragem e teste de produtos antes do acondicionamento e embarque.

Por que ingressou na NASFAM?

Ingressei em 2001, quando estava começando a cultivar profissionalmente. Busquei a NASFAM porque precisava de ajuda. Vi que alguns agricultores estavam tendo dificuldade por falta de serviços de extensão, enquanto outros conseguiam uma boa colheita. Minha irmã, que já pertencia a essa organização, me incentivou a ingressar também.

Que diferença fez?

Depois do meu ingresso, obtive um empréstimo para comprar 20 sacos de fertilizante, que usei nas minhas lavouras de milho e tabaco. Consegui pagar o empréstimo com a venda do tabaco, pois tive uma boa colheita. Antes, estávamos usando técnicas tradicionais. A NASFAM me ensinou práticas agrícolas apropriadas e me transmitiu conhecimento para administrar melhor minha propriedade. 

Qual o tamanho da sua propriedade?

Tem cerca de 1 hectare; nela cultivo milho, soja, tubérculos e tabaco. A soja é cultivada principalmente para alimentação, enquanto os outros produtos são vendidos. Neste ano, consegui colher 70 sacas de milho de 50 kg e vendi 30 sacas.

Sua vida mudou depois que ingressou na NASFAM?

Sempre temos comida em casa e podemos fazer uma boa refeição todo dia. Posso pagar a escola para meus filhos, o que sempre foi um desafio para mim. Estou construindo uma casa de tijolos, que está praticamente terminada, e meus filhos podem dormir num colchão.

Como se tornou presidente?

Primeiro me tornei presidente de um clube local em 2006, o que me deu um lugar na diretoria. Depois, me tornei secretária da diretoria e no ano seguinte fui eleita presidente com um mandato de quatro anos. Pertencer à organização foi muito bom para mim e quero promovê-la entre os pequenos produtores, particularmente as mulheres.

E as mulheres?

Muitos emigram do Malawi para a África do Sul em busca de trabalho. Acho que as mulheres querem ficar na sua terra e criar seus filhos. Elas querem produzir alimentos para sua família. Mas precisam de ajuda para ter acesso ao mercado, conseguir crédito e melhorar seu conhecimento sobre as técnicas e práticas agrícolas.

Na sua opinião, quais são os principais desafios?

O acesso aos mercados seria a primeira questão. Não temos transporte para levar os produtos do campo para o armazém ou o mercado, e isso é um grande problema para nós. Podemos produzir alimentos – neste ano tivemos muito milho – mas temos dificuldade em vender o excedente. Em consequência, temos que vender nossos produtos para um intermediário a um preço mais baixo. O acesso ao capital é outro problema. Os juros são muito altos e não temos como pagar.

O que você acha do Fórum dos Agricultores?

Acho o Fórum muito interessante porque me fez perceber que todos os pequenos produtores têm os mesmos problemas, mesmo em outros países ou regiões. Com o Fórum, podemos compartilhar e discutir nossos problemas e tentar achar uma solução.

Quais são os seus planos para o futuro próximo?

Logo poderei comprar um carro de boi, o que me deixa muito feliz porque vai melhorar minha vida. Vou poder levar adubo da minha casa para o campo, que fica a uns 4 quilômetros, e depois transportar os produtos. Também espero continuar trabalhando com a NASFAM.

Que conselho daria às agricultoras?

Primeiro, venham para a organização! E sejam membros ativos. Incentivo todas as mulheres das diversas associações a participarem ativamente das reuniões e contribuírem para seu grupo. Como diz o lema da nossa organização: “O futuro pertence aos que se organizam”.

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Promover melhor acesso ao mercado para os pequenos produtores: entrevista com Philippe Kiriro

   
 

 

Philippe Kiriro, Presidente da Eastern Africa Farmers' Federation (EAFF)    

Philippe Kiriro é líder dos agricultores desde 1997, primeiro como presidente da Kenyan National Farmers’ Union e depois da Kenyan National Federation of Agricultural Producers. Além de agricultor, é membro da Diretoria da Association for Strengthening Agricultural Research in Eastern and Central Africa. Atualmente, é Presidente da Eastern Africa Farmers’ Federation.

Que é a Eastern Africa Farmers’ Federation?

A EAFF é uma organização não política sem fins lucrativos que representa agricultores da África Oriental. Foi estabelecida em 2001. Sua função é expressar as preocupações legítimas e representar os interesses dos agricultores da região, com o objetivo de aumentar a coesão regional e melhorar a situação social e econômica dos agricultores, além de fortalecer sua capacidade. A Federação está tentando promover a integração regional dos agricultores mediante o comércio e relações de boa vizinhança.

Quais são as principais questões?

A principal questão em todos os países é a comercialização da agricultura. Sabemos que muitos pequenos agricultores podem produzir, mas têm dificuldade em vender seus produtos porque não dispõem de acesso aos mercados. Os agricultores estão dispersos, a infraestrutura é deficiente e eles não têm acesso ao mercado. Essas são as questões que devemos abordar.

Qual a posição da EAFF?

Achamos que os governos são mais sensíveis às organizações de agricultores do que às ONGs, como acontecia antes. Há mais interação com os produtores, o que melhorou a imagem dos governos, especialmente no tocante a programas em prol dos pobres ou programas a favor dos agricultores pobres. Os produtores de todos os países precisam se juntar através de uma organização para expressar suas preocupações. É nesse ponto que a nossa federação pode ajudar. Na África Oriental e Meridional, estamos vendo boa vontade por parte dos governos.

Qual é a estratégia da organização?

Tentamos trabalhar em vários níveis, como defesa de causas, fortalecimento da capacidade e liderança de pessoal, informação e comunicação, além de intercâmbio, incluindo o desenvolvimento de parcerias e programas. É importante que a nossa organização agregue valor e melhore os resultados dos programas. Então, precisamos nos organizar para participar. Trabalhamos segundo um plano estratégico de quatro anos, atualmente de 2008 a 2011.

Quais são os seus objetivos?

Estamos planejando uma união alfandegária e tarifas harmonizadas na região para promover o comércio. Precisamos fortalecer o mercado regional.

Na sua opinião, qual o principal benefício do Fórum dos Agricultores?

O Fórum é uma oportunidade para os líderes se reunirem e discutirem várias questões, e isso não deve ser subestimado. Neste caso, não consultamos uns aos outros antes, mas todos convergimos nas mesmas questões dos pequenos agricultores.

Qual é o papel do FIDA nesse aspecto?

É muito interessante ver como o FIDA se reforçou por meio do Fórum. A agenda de reforma está se materializando e se tornando mais concreta. Vemos que as equipes de países estão domesticando a agenda de reforma e estamos presenciando um diálogo mais forte entre o FIDA, os governos e as organizações de agricultores. O Fórum permitiu que o FIDA aprendesse mais; em consequência, seus programas são mais eficazes.

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Escolas práticas melhoram a produção de arroz em Zanzibar

   
 

 

Yusuf Faki Yusuf (esquerda) e seu colega limpam sua plantação de arroz em Upenja após uma invasão de lagartas (foto de Andrea Simon Mbinga)    
   
 

 

Yusuf Faki Yusuf inspeciona sua plantação de aroz depois que as lagartas invadiram a área (foto de Andrea S. Mbinga)    
   
 

 

Yusuf Faki Yusuf operando sua máquina de beneficiamento em Kisongoni, distrito Norte A de Unguja (foto de Shauri Haji)    

Yusuf Faki Yusuf é um agricultor de 43 anos que vive no distrito Norte A de Unguja em Zanzibar. Há anos ele vinha tentando ganhar a vida cultivando arroz, mas enfrentava más colheitas e queda do rendimento. Em 2007, sua vida mudou quando começou a frequentar uma escola prática de agricultura, introduzida nessa área no âmbito do Programa de Serviços de Apoio Agrícola (ASSP) e Programa de Desenvolvimento do Setor Agrícola - Pecuária (ASDP-L) apoiados pelo FIDA. O que Yusuf precisava para ter êxito era a capacidade técnica e conhecimento tecnológico. Graças ao treinamento recebido na escola prática, conseguiu obter o conhecimento de que precisava.
 
“Eu falo de todo o coração sobre o ASSP e ASDP-L. Acho que não tinha conhecimento sobre uso correto de fertilizantes, plantio espaçado e controle de ervas daninhas. Por isso, a produção não era encorajada naqueles tempos,” disse ele. Yusuf acrescenta que levou quase nove anos procurando o treinamento e conhecimento agrícola apropriado, mas só conseguiu com a introdução dos dois programas do FIDA.

Foram estabelecidas escolas práticas de pecuária e agricultura para melhorar as técnicas. Ao contrário dos enfoques tradicionais, nos quais os extensionistas oferecem assessoria aos agricultores, as escolas práticas permitem que os grupos de agricultores encontrem as respostas por si mesmos. Isso significa que os agricultores podem desenvolver soluções para seus próprios problemas. No fim de 2009, o ASSP/ASDP-L havia estabelecido mais de 300 escolas práticas, com uma média de 20 membros. O treinamento é fornecido por facilitadores, extensionistas profissionais que trabalham com o ASSP/ASDP-L, e vai desde a gestão de atividades pecuárias até a seleção de sementes que produzirão melhores rendimentos. Os membros da escola prática realizam atividades agrícolas baseadas no tipo de lavoura cultivada na área.
 
Os dois programas estão sendo implementados em nove distritos de Zanzibar: distritos Oeste, Sul, Central, Norte A e Norte B de Unguja; e Chake Chake, Micheweni, Mkoani e Wete na ilha de Pemba.  

Após aplicar o conhecimento adquirido, Yusuf conseguiu quadruplicar a produção de arroz em seu campo de 1,6 hectare, colhendo 80 sacas de arroz num ano, que ele vendeu por 3,2 milhões de shillings (US$2.300), ou o equivalente a 40.000 shillings (US$29) por saca. O dinheiro permitiu que ele comprasse uma máquina de beneficiamento por 2,2 milhões de shillings (US$1.600). Ele ganha cerca de 300.000 shillings (US$220) por mês com o beneficiamento para outros agricultores. Além de vender arroz beneficiado, Yusuf está vendendo sementes para o Departamento de Agricultura e outros agricultores.
 
Yusuf conseguiu mandar seus quatro filhos para a escola, e paga as mensalidades e os livros. “Era muito difícil conseguir esse dinheiro antes de aumentar a produção. Às vezes, tinha que pedir emprestado ou vender minhas coisas, mas agora posso pagar com folga,” diz ele.

O sucesso o encorajou a expandir sua plantação para 4 hectares. Ele planeja acrescentar mais 2 hectares por ano até atingir um total de 8 hectares. “Depois que adquiri o conhecimento apropriado, minha vida melhorou muito,” conclui.

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Rede de empresárias rurais nasce de uma visita de intercâmbio sul-sul do FIDA

   
 

 

Odile Razafitsoharana, Presidente da Rede de Empresárias Rurais, mostra o arroz colhido, Polo de Ampasimbe-Maningory, Analanjirofo    

Em junho de 2009, um grupo de 16 agricultoras, incluindo representantes de organizações de agricultores que trabalham no Programa de Promoção da Renda Rural (PPRR) e Programa de Apoio aos Polos de Microempresas Rurais e Economias Regionais (PROSPERER) apoiados pelo FIDA em Madagascar, foi levado à Maurícia como parte de um intercâmbio sul-sul. O intercâmbio foi organizado no âmbito de uma iniciativa apoiada pelo FIDA e FAO sobre Fortalecimento da Capacidade Regional e Gestão do Conhecimento para a Igualdade de Gênero. A iniciativa busca promover o intercâmbio de conhecimentos e experiências, particularmente sobre liderança e capacidade organizacional.

A visita se concentrou principalmente no intercâmbio de êxitos entre micro-empresárias que foram beneficiadas por dois projetos do FIDA em Madagascar e grupos de mulheres da ilha Rodrigues na Maurícia. Os grupos de mulheres da Maurícia conseguiram aplicar suas habilidades de liderança e organização em várias atividades geradoras de renda, notadamente agroprocessamento. Elas compartilharam suas experiências e conhecimentos com as empresárias de Madagascar, que contaram suas próprias histórias.

   
 

 

Les premiers membres du Réseau des entrepreneuses rurales devant les travaux de construction d'un centre pour les femmes, pôle d'Ampasimbe-Maningory (Analanjirofo).    

Odile Razafitsoharana foi uma das agricultoras selecionadas para participar do intercâmbio. Ela é agricultora numa das áreas do PPRR em Madagascar. Além de estar envolvida em várias atividades agrícolas, como cultivo de arroz e produção de óleo essencial de cravo, é chefe de um grupo de criadoras de mudas e membro ativo da rede local de microfinanças (OTIV).

Odile aprendeu muito observando outras mulheres que dirigem negócios na Maurícia e voltou para casa com novas ideias para suas atividades. Ela compartilhou o conhecimento com as agricultoras da área e logo ganhou apoio. As mulheres envolvidas em pequenas atividades geradoras de renda, como a confecção de cestas, preparo de óleos essenciais e cultivo de pimenta, milho e arroz, viram a possibilidade de expandir suas atividades. Assim nasceu a Rural Women’s Entrepreneur Network. 

Odile visitou todas as áreas da região (Analanjirofo), encorajando as mulheres a ingressar na rede. Ajudou outra participante da rede, Jacqueline Raheva (de Atsinanana), a fazer o mesmo nos distritos de sua região. Juntas, conseguiram mobilizar cerca de 800 mulheres nas duas regiões. 

O objetivo da rede recém-criada é fazer com que as mulheres rurais se tornem profissionais em seu campo de atividades, criando contatos comerciais confiáveis e encontrando provedores de serviços adequados. A rede também quer promover o bem-estar de seus membros, assegurando a prestação de serviços sociais como saúde e educação. 

Com apoio do PPRR, em outubro de 2009 a rede estabeleceu um plano de trabalho trienal, que está sendo implementado. Estão sendo planejados e construídos centros de mulheres em cada polo ou área, em colaboração com as autoridades locais. Esses centros estarão ligados aos Centros de Acesso ao Mercado, atuando como pontos comerciais e sociais para fornecer informação sobre os preços do mercado. A rede também ajudará a identificar as principais feiras regionais e nacionais, nas quais as mulheres precisam participar para divulgarem seus produtos.   

A rede também planeja se expandir para outras regiões da ilha. Estão sendo realizadas negociações para incluir as beneficiárias de projetos do FIDA em outras regiões. O objetivo é fazer com que a Rural Women Entrepreneurs Network continue a se fortalecer e seja oficialmente reconhecida no âmbito nacional e mesmo internacional.

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Notícias e eventos

Doações e empréstimos aprovados pela Diretoria Executiva, abril de 2010

Empréstimos e doações a países 

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Eventos recentes e próximos

Suazilândia

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Missões

Lesoto

Moçambique

Ruanda

Tanzânia

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Seminários e treinamento

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Nomeações e recrutamento

Os seguintes Gerentes Adjuntos (ACPMs) foram recrutados recentemente na África Oriental e Meridional: Karina Nielsen para o programa de Uganda, Caroline Bidault para Madagascar, Eric Rwabidadi para o Quênia e Hannington Sebaduka para a Etiópia. Congratulações a Karina, Caroline, Eric e Hannington.